Eu e Carmé, a unidade na diversidade

Conheci Carmelita na sala de aula e na militância política. Ela, no PcdoB. Eu, ainda não filiado ao PT. Costumo dizer – agora com muita saudade – que fomos uma unidade na diversidade de ideias. O maior simbolismo disso talvez tenha ocorrido em 1990. Tempo de eleição. Nosso carro circulou a Bahia inteira chamando a atenção por onde passava. De um lado, a plotagem trazia imagens dos meus candidatos – Gabrielli, Jonas Paulo, Nelson Simões e Geraldo Simões. Do outro, os candidatos dela: Lidice, Salete, Beth, Haroldo Lima e Zezé. Nós sempre acreditamos que o amor não acontece apenas quando as semelhanças nos juntam. Mas, também, quando as diferenças não nos separam.

Por isso eu precisava escrever algo. Primeiro para falar da mulher líder, especial e incrível que tive ao meu lado por mais de três décadas. Mas, também, para agradecer a toda a solidariedade que nossa família teve ao longo da sua luta pela vida. Foram 30 dias em que me mantive em pé, esperançoso, alimentado pelo carinho recebido dos amigos, dos colegas e dos profissionais do Hospital Regional Costa do Cacau. Tenho certeza – e sem inveja alguma – que muito do carinho recebido, representava a devolutiva de toda a doação que Carmé ofereceu ao longo da sua existência, seja como mulher, professora ou amiga.

Aquela menina da roça, de origem humilde, que veio para a cidade aos dois anos para ser criada pela tia, é, sem dúvida, o maior exemplo de superação que conheci. Foi a primeira pessoa da família a chegar a um curso superior. Como professora ganhou o respeito e a admiração dos alunos. Como liderança sindical, lutou pelas causas que acreditava, liderou a fundação da APPI Sindicato, contribuiu na construção da CUT Cacaueira. Como política, conquistou dois mandatos de vereadora e foi, na história do PT, a candidata mais bem votada do partido a prefeita de Ilhéus. Carmelita foi incansável, dividindo com maestria o seu tempo na política com a dedicação de esposa e mãe dos nossos filhos Edineizinho e Gabriela.

Agora em dezembro faríamos 34 anos de casados. Entre não conseguir ser mais aquela mulher forte e líder, preferiu a passagem. Neste tempo que a acompanhei no leito da UTI, o filme da nossa história de luta foi inevitável. A divisão do estacionamento na escola onde nos conhecemos. Eu na minha moto. Ela no velho fusca. As greves que participamos juntos. O pedido de namoro. O casamento oito meses depois com a convicção de que seria para sempre. De formação religiosa, católica, Carmé militava desde muito jovem no Movimento de Cursilho. É nesta fé em Deus que ela me ajudou a solidificar a minha crença, me dando as mãos e me levando ao seu lado. Fazendo a trajetória com que me seguro neste momento, olhando em nossos filhos e em nossos netos, e relembrando toda a história que construímos juntos.

Meu coração sangra, Carmé. Mas como foi bom ter tido você em minha vida!

O autor Ednei Mendonça é professor aposentado e presidente do PT Ilhéus